A partir de resultados de experimentos de percepção anteriormente desenvolvidos (Projeto CNPq No. 306022/2015-0), acerca dos significados sociais da “concordância nominal de número” (CN) e da “pronúncia de /e/ nasal” (ditongada ou não) em palavras como setenta (EN), este projeto objetiva analisar como as variantes dessas variáveis são empregadas em conjunto, na construção de estilos (Eckert 2016) e na expressão de personae (Podesva 2006, 2007; D’Onofrio 2015). Para isso, a proposta foi gravar a fala de quatro paulistanos (dois homens e duas mulheres) em diferentes contextos, com diferentes interlocutores. Os argumentos em favor da proposta constroem-se em torno das limitações da entrevista sociolinguística como meio de entender o potencial da indicialidade (Eckert 2008) das formas linguísticas e termina com considerações de natureza ética (as gravações devem ser feitas com o consentimento de todos nela envolvidos). Além do interesse metodológico da análise do emprego conjunto de diferentes variantes, na fala individual, esse projeto tem o potencial teórico de contribuir para a discussão das relações entre percepção e produção sociolinguística.

Este projeto se propõe a examinar contextos em que línguas vivem em contato gerando uma variedade de efeitos. Esses efeitos podem ser mudanças na estrutura de algumas das línguas; empréstimos ou calques de estruturas; e até mesmo a emergência de novas variedades linguísticas. Para este fim nos debruçaremos sobre a investigação de áreas multilíngues no Brasil, como o alto Rio Negro e na África, como a África Ocidental na região em que se falam línguas kwa e a África Centro Ocidental em que se falam línguas bantu. Simultaneamente, damos continuidade a estudos que se iniciaram em projetos anteriores em que a formação do português brasileiro é explicada como consequência de uma ecologia de contato multilíngue.

O contato das populações africanas, indígenas e europeias que resultaram dos fluxos econômicos e migratórios desde o século XV teve efeitos linguísticos profundos. Novas variedades das línguas europeias veículos da colonização como espanhol, francês, português e inglês surgiram nas Américas, no Caribe e nas costas africanas. Este projeto pesquisa o contato linguístico transatlântico em diferentes níveis da análise linguística (sintaxe, pragmática) especificamente nas línguas da África do Oeste (Senegal, Cabo Verde), Centro-Oeste (Angola) e do Brasil. Além da pesquisa de fenômenos e variáveis linguísticos concretos, é objetivo do projeto contribuir na formulação de hipóteses sobre os mecanismos e processos ativos na gênese de novas variantes ou línguas em situações de contato intenso. O projeto é de caráter interdisciplinar, incorporando dados e métodos das ciências históricas e antropológicas.

A pesquisa visa a dar continuidade à busca de dados que sirvam de evidência para a hipótese deque, por ter emergido como uma variedade colonial resultante de um processo de intenso contato multilinguístico no Brasil colônia, a gramática do português brasileiro apresenta propriedades distintas de outras línguas românicas. Assim formulado, o projeto exige que busquemos sustentação em uma teoria sobre o contato linguístico. A Teoria da Evolução das Línguas, tal como proposta por Mufwene (2008), continuará oferecendo embasamento teórico à nova investigação aqui proposta. Até aqui consideramos a hipótese de que o processo de competição e seleção de traços integrantes de um banco de traços construído a partir das línguas em contato no Brasil colônia, responsável pela emergência de uma língua híbrida com as propriedades caracterizadoras do português brasileiro, foi facilitada pela congruência entre esses traços. Aboh (2015) defende a hipótese de um outro elemento facilitador do processo de seleção: o papel das interfaces, entre elas a interface sintaxe-semântica/discurso. Nesta pesquisa o papel desempenhado pelas interfaces dos módulos da gramática no processo de competição e seleção de traços será avaliado a partir da análise das propriedades gramaticais que constituem tal banco construído pelas línguas em contato no Brasil colônia - português clássico, línguas africanas (línguas do grupo bantu) e línguas indígenas (tupi-guarani), a ele acrescentando as línguas africanas do grupo kwa. Evidências da história dos contatos linguísticos no Brasil colônia suportam a ideia de que as línguas europeias, indígenas e africanas mencionadas participavam dessa ecologia multilíngue.

Este projeto visa a investigar a situação atual e histórica da Língua Geral Amazônica (LGA) ou Nheengatu. O enfoque é o impacto de contato linguístico português/nheengatu e entre o nheengatu e outras línguas indígenas faladas na região do Alto Rio Negro, como, p. ex., Dâw, Nadëb, Baniwa, Warekena. Outro ponto de interesse é a evolução do Nheengatu/LGA a partir do Tupi Antigo e sua expansão pela Bacia do Amazonas e além.

O objeto de investigação desta pesquisa são aspectos da sintaxe do português brasileiro, entendido como uma língua colonial que emergiu em uma ecologia de intenso contato multilinguístico entre variantes de línguas europeias, africanas e indígenas. A concepção teórica que embasa este projeto é a que entende a língua como um padrão que emerge a partir das práticas linguísticas individuais dos falantes interagindo socialmente. Portanto o que chamamos de línguas são abstrações, pois o que temos de concreto são as falas de falantes envolvidos em interações comunicativas. Nessa perspectiva teórica, os movimentos populacionais que resultam no contato linguístico são o motor desencadeador da mudança, do nascimento e da morte de qualquer língua. Sendo assim, esta investigação vai se dar em dois âmbitos: 1) no linguístico, uma análise rigorosa e detalhada de aspectos tidos como peculiares da sintaxe do português brasileiro será comparada com análises rigorosas de aspectos das gramáticas das línguas presentes nas situações de contato multilíngue do Brasil colônia. No caso deste projeto a descrição detalhada incidirá sobre aspectos da sintaxe do português clássico, e da sintaxe de duas famílias de línguas africanas: as línguas bantu, quando possível do kimbundu e as línguas gbe, em especial a língua geral de mina, uma língua africana documentada, provavelmente uma variante de línguas gbe falada no Brasil colonial; 2) no sócio-histórico, a análise incidirá sobre documentos que permitam recuperar a história dos contatos linguísticos que constituíram a ecologia multilíngue na qual emergiu o português brasileiro. O estudo dessas línguas de criação recente podem dar contribuição importante não só para o entendimento de como emergem as propriedades caracterizadoras da mudança linguística e do nascimento de novas línguas, mas também poderá contribuir com hipóteses explicativas para a questão da evolução da linguagem na espécie humana.

Este projeto se insere numa investigação da variação linguística intergeracional e os processos de mudança linguística que estejam observáveis entre integrantes das comunidades guarani Mbyá da T. I. Tekoa Porã, localizadas no município de Parelheiros (SP) e as comunidades Mbyá e guarani “Nhandeva” e “Tupi-Guarani” do litoral sul do estado de São Paulo. O projeto faz parte de uma iniciativa mais ampla coordinado pelo Centro de inteligência Artificial que envolve docentes do Departamento de Linguística da FFLCH/USP e docentes de departamentos de robótica e informática de diversas unidades da USP, alem de profissionais da empresa IBM. Visa-se trazer tecnologia de ponta para auxiliar a documentação das referidas línguas indígenas, visando o fortalecimento e, quando necessário, a revitalização delas. Pretendemos desenvolver atividades em colaboração com as comunidades de falantes, respeitando sempre suas demandas e direcionando as pesquisas em prol das necessidades indicadas.

Projeto de documentação audiovisual e analise da variedade da lingua Nheengatu (ramo tupi-guarani, familia tupi) falado como segunda lingua por anciões da etnia Dâw, moradores da comunidade Waruá (T.I. Médio Rio Negro II), em frente à cidade de Sao Gabriel da Cachoeira, na outra margem do Rio Negro (AM). Trata-se de uma colaboração com os integrantes da comunidade Dâw para registrar esta variedade moribunda da língua Nheengatu para fins históricos, ja que ela não é transmitida intergeracionalmente, se é que ela era aprendida dessa forma no passado, de fato, e produzir um livrinho de historias de autobiográficos para ser usado de acordo com os interesses dos Dâw. Fases subsequentes deste projeto analisaram as características linguísticas do Nheengatu Dâw, focando em fenômenos de contato linguístico, bilinguismo, aquisição de segunda lingua e crioulização.